Nasci em Lisboa e durante quase trinta anos vivi em Alcântara.
Sim, a Alcântara dos contentores, dos carregueiros e dos paquetes. Dali partiu o meu tio João para a América, sonhando com um mundo melhor. Ali, ainda estão as lágrimas da minha avó.
Na década de 80... fiz um trabalho sobre a Cidade e o Rio... como aquele que agora anda hipocritamente a dar que falar.
«Salvem Lisboa dos Contentores!» deu-lhes agora, como se a cidade fosse o «Willy» dos lisboetas...
A conclusão a que cheguei com esse estudo, é que a cidade não estava de costas voltadas para o rio... mas de pressianas corridas.
Por um lado, todos gostam muito do rio, ah e tal... é muito bonito e faz parte da cidade... por outro, a maior parte das pessoas que refila por causa dos contentores, só os usou para fazer uma «real* mija» numa daquelas noites de bebedeira nas docas...
E o que dizem os velhos lisboetas que viveram toda a vida com os contentores?
Os velhos, esses que nunca contam para nada... passearam muitas vezes os filhos e os netos e fizeram dos contentores de Lisboa autênticas zonas de diversão, onde se andava de bicicleta e se brincava às escondidas... esses, são os que ainda hoje abrem as janelas de par em par para ver entrar a luz de Lisboa... dizem alguma coisa?
Provavelmente não. Porque quando abrem a janela que dava para o rio, dão de caras com um condomínio RIO QUALQUER COISA que construíram de forma a aproximar a população do rio...
Esse condomínio que está de pressianas fechadas todo o dia, porque os seus proprietários que ali gastaram fortunas para morar... agora têm que ir trabalhar e só olham o rio de noite... quando ele dorme. Ou quando vão às docas beber uns «reais» canecos...
Hoje, esta polémica dos contentores na zona ribeirinha faz-me comichões...
eu, que acordava ao som dos carregueiros... que andei de bicicleta entre os contentores, que passei algumas horas parada em filas de trânsito ao fim-de-semana por causa dos combóios que os transportam... que por ali dei os primeiros passeios de namorados, que percorri a pé da Rua dos Bacalhoeiros ao Largo da Triste Feia, a fotografar as inúmeras referências a este Tejo... protesto: acho uma injustiça gastarmos dinheiro para apagarmos uma parte deste Tejo que insiste em abraçar esta cidade que não quer ser abraçada.
E não gostava que sobre as lágrimas da minha avó construísssem outra «obra de arte» que nos separasse ainda mais
*Real Nova expressão, de um novo amigo
17 novembro 2008
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